terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Crônica

Uma crónica ou crônica é uma narração, segundo a ordem temporal. O termo é atribuído, por exemplo, aos noticiários dos jornais, comentários literários ou científicos, que preenchem periodicamente as páginas de um jornal.

Exemplo:


                                        Coisas Antigas

Já tive muitas capas e infinitos guarda-chuvas, mas acabei me cansando de tê-los e perdê-los; há anos vivo sem nenhum desses abrigos, e também, como toda gente sem chapéu. Tenho apanhado muita chuva, dado muita corrida, me plantando debaixo de muita marquise, mas resistido. Como geralmente chove à tarde, mais de uma vez me coloquei sob a proteção espiritual dos irmãos Marinho, e fiz de O Globo meu paraguas de emergência. Ontem, porém, chovei demais, e eu precisava ir a três pontos diferentes de meu bairro. Quando o moço de recados veio apanhar a crônica para o jornal, pedi-lhe que me comprasse um chapéu-de-chuva que não fosse vagabundo demais, mas também não muito caro. Ele me comprou um de pouco mais de trezentos  cruzeiros, objeto que me parece bem digno da pequena classe média, a que pertenço. (Uma vez tive um delírio de grandeza em Roma e adquiri a mais fina e soberba umbrella da Via Condotti; abandonou-me no primeiro bar em que entramos; não era coisa para mim.)
Depois de cumprir meus afazeres voltei para casa, pendurei o guarda-chuva a um canto e me pus a contemplá-lo. Senti então uma certa simpatia por ele; meu velho rancor contra os guarda-chuvas cedeu lugar a um estranho carinho, e eu mesmo fiquei curioso de saber qual a origem desse carinho.
 Pensando bem, ele talvez derive do fato, creio que já notado por outras pessoas, de ser o guarda-chuva o objeto do mundo moderno mais infenso a mudanças. Sou apenas um quarentão, e praticamente nenhum objeto de minha infância existe mais em sua forma primitiva. De máquinas como telefone, automóvel, etc., nem é bom falar. Mil pequenos objetos de uso mudaram de forma, de cor, de material; em alguns casos, é verdade, para melhor; mas mudaram.
 O guarda-chuva tem resistido. Suas irmãs, as sombrinhas, já se entregaram aos piores desregramentos futuristas e tanto abusaram que até caíram de moda.
Ele permaneceu austero, negro, com seu cabo e suas invariáveis varetas. De junco fino ou pinho vulgar, de algodão ou de seda animal, pobre ou rico, ele se tem mantido digno.
 Reparem que é um dos engenhos mais curiosos que o homem já inventou; tem ao mesmo tempo algo de ridículo e algo de fúnebre, essa pequena barraca ambulante.
 Já na minha infância era um objeto de ares antiquados, que parecia vindo de épocas remotas, e uma de suas características era ser muito usado em enterros. Por outro lado, esse grande acompanhador de defuntos sempre teve, apesar de seu feitio grave, o costume leviano de se perder, de sumir, de mudar de dono.  Ele na verdade só é fiel a seus amigos cem por cento, que com ele saem todo dia, faça chuva ou sol, apesar dos motejos alheios, a estes, respeita. O freguês vulgar e ocasional, este o irrita, e ele se aproveita da primeira distração para sumir.
Nada disso, entretanto, lhe tira o ar honrado. Ali está ele, meio aberto, ainda molhado, choroso; descansa com uma espécie de humildade ou paciência humana; se tivesse liberdade de movimentos não duvido que iria para cima  do telhado quentar no sol, como fazem os urubus.
 Entrou calmamente pela era atômica, e olha com ironia a arquitetura e os móveis chamados funcionais: ele já era funcional muito antes de se usar esse adjetivo; e tanto que a fantasia, a inquietação e a ânsia de variedade do homem não conseguiram modificá-lo em coisa alguma.
 Não sei há quantos anos existe a Casa Loubet, na Rua 7 de Setembro. Também não sei se seus guarda-chuvas são melhores ou piores que os outros; são bons; meu pai os comprava lá, sempre que vinha ao Rio, e herdei esse hábito.
 Há um certo conforto íntimo em seguir um hábito paterno; uma certa segurança e uma certa doçura. Estou pensando agora se quando ficar um pouco mais velho não comprarei uma cadeira de balanço austríaca. É outra coisa antiga que tenho resistido, embora muito discretamente. Os mobiliadores e decoradores modernos a ignoram; já se inventaram dela mil versões modificadas, mas ela ainda existe na sua graça e leveza original. É respeitável como um guarda-chuva, e intensamente familiar. A gente nova a despreza, como ao guarda-chuva. Paciência. Não sou mais gente nova; um guarda-chuva me convém para resguardo da cabeça encanecida, e talvez o embalo de uma cadeira de balanço dê uma cadência mais sossegada aos meus pensamentos, e uma velha doçura familiar aos meus sonhos de senhor só.


                                                     Rubem Braga / Novembro, 1957   

Mudanças ocorridas da fotografia analógica para a fotografia digital


O surgimento da fotografia veio a partir de experiências feitas por químicos e alquimistas desde a mais remota antiguidade. Sabe-se que por volta de 350 a.C., aproximadamente na época em que viveu Aristóteles na Grécia Antiga já se conhecia o fenômeno da produção de imagens pela passagem da luz através de um pequeno orifício.
 A primeira fotografia reconhecida é uma imagem produzida em 1825 pelo francês Nicéphore Niépce numa placa de estanho coberta com um derivado de petróleo chamado betume da Judéia. Foi produzida com uma câmera, tendo que ficar por volta de oito horas de exposição à luz solar.
A partir do século XIX a fotografia ganha novo impulso com a Revolução Industrial. Em 1901 surge o mercado da fotografia em massa com a primeira câmera analógica lançada pela marca Kodak e, em especial, os processos de industrialização da produção e revelação de filmes. Com o tempo, novas necessidades surgiram no que diz respeito aos custos da revelação de filmes e ao tempo escasso na entrega de materiais por fotógrafos, sobretudo por parte dos fotojornalistas.
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 Em 1990, a Kodak lançou a DCS100, a primeira máquina digital comercialmente disponível. Seu custo impediu o uso em fotojornalismo e em aplicações profissionais, mas a fotografia digital nasceu. Em 10 anos, as máquinas digitais se tornaram produtos de consumo e estão substituindo gradualmente as câmeras analógicas.
Em entrevista com dois fotógrafos da vanguarda de Vitória da Conquista, Edna Nolasco e Vivaldo Leão Rocha (Sabiá), foram ouvidas suas opiniões, enquanto fotógrafos profissionais, acerca dos prós e contras da mudança do mundo analógico para o mundo digital na fotografia.

Quais foram as principais mudanças que ocorreram da fotografia analógica para fotografia digital?
Edna Nolasco: Ao contrário da fotografia analógica, com a fotografia digital você tem a imediaticidade do resultado. Alguns fotógrafos acreditam que banalizou a fotografia dessa forma, mas pelo contrário, só irá ficar no mercado quem tem capacidade, quem estiver disposto a estudar todos os dias a fotografia.
A fotografia digital deve ser pesquisada a fundo porque um número maior de pessoas está fotografando. Para você ser um profissional de destaque existe uma necessidade de constante pesquisa na área para que haja um reconhecimento no mercado.
Do ponto de vista técnico, a senhora acredita que houve melhorias com relação a essa mudança?
Edna Nolasco: Com toda certeza porque nós temos hoje a praticidade. Você antes tinha que fazer a foto, revelar o filme com cuidado porque ao menor erro você poderia ter todo o seu trabalho perdido, enquanto que na digital você pode errar mais porque poderá imediatamente corrigir.
Com relação às ferramentas de edição de imagem, como por exemplo, o photoshop, qual a sua opinião sobre esses recursos de manipulação de imagem?
Edna Nolasco: Mudou somente a ferramenta. Meu pai, que entrou no mercado em 1958, de lá pra cá sempre fez retoques em foto. Esses retoques eram feitos no negativo com lápis e hoje você faz com o mouse. Mudou a ferramenta, mas o princípio da fotografia continua o mesmo.
Há quanto tempo a senhora trabalha com fotografia?
Edna Nolasco: Estou na fotografia desde que nasci, já que nasci em casa de fotógrafos. Passei a trabalhar com fotografia desde os 14 anos de idade, então estou, aproximadamente, há 35 anos como profissional.

Entrevista com Sabiá (Vivaldo Leão Rocha):
O que mudou da fotografia analógica pra digital, do ponto de vista do profissional que trabalha com ela?



Sabiá: A princípio os grandes fotógrafos de arte que trabalhavam com o documento revelado mesmo, como por exemplo, Sebastião Salgado resistiram um pouco a essa mudança da fotografia analógica pra digital.
Com relação ao desenvolvimento de um trabalho mais rápido, não há dúvidas de que a fotografia digital é mais prática, mas quando se fala em trabalhar com boa iluminação, qualidade de imagem, a poesia, a arte, a fotografia analógica nunca irá morrer.
No equipamento analógico é preciso ter um conhecimento técnico da fotografia, como abertura do diafragma, tempo de exposição, ISO do filme, manipulação das objetivas, etc.
Com a era digital, qualquer um hoje pode ser fotógrafo tendo um capital pra investir em bons equipamentos. Eu acredito que o que muda é quem está atrás da câmera, quem opera porque a grande fotografia é aquela em que a imagem diz alguma coisa.
Hoje você pede pro fotógrafo tirar dez fotos e ele fará cem pra escolher as dez. Virou uma coisa compulsiva. Um bom exemplo disso se vê com os fotógrafos de formatura e casamentos.
O fotógrafo quando sai pra fotografar ele tem que determinar o que ele está querendo, caso contrário a fotografia passa a ser uma coisa compulsiva.
Em sua opinião, quais sãos as vantagens e desvantagens da câmera analógica e da máquina digital?
Sabiá: A vantagem da analógica é que você compra o equipamento e dificilmente ele quebrará, ao passo que a máquina digital poderá quebrar imediatamente. Esse tipo de equipamento não foi feito para dar certo. Ele pode lhe dar um rápido retorno financeiro, mas no que diz respeito ao arquivo documental não é seguro.
Há 170 anos quando surgiu a fotografia, a primeira foto registrada existe até hoje. Eu não poderia afirmar que com certeza uma foto registrada há 10 anos num equipamento digital possa existir ainda. Gravações em mídia não são seguras, o documento no computador pode se perder por conta de um vírus na máquina ou outra pessoa pode formatá-lo.
Há quanto tempo o senhor trabalha com fotografia?        
Sabiá: Eu trabalho com a fotografia há 29 anos, sendo 19 anos de serviço prestados à Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia- UESB

Para fotógrafos profissionais como Edna Nolasco, a fotografia digital veio para facilitar a vida do profissional, noticiar fatos com uma velocidade incrível, permitir ao profissional que compartilhe quase que instantaneamente esses momentos através de fotos é uma grande conquista das novas tecnologias. Já para o fotógrafo Vivaldo Leão, os ganhos com a fotografia digital são inegáveis, contudo, para ele, existe uma perda de qualidade com a fotografia digital que dificilmente será corrigida, colocando assim a fotografia analógica num patamar de fotografia de arte.



Reportagem: Bárbara Jardim

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Charges / Caricaturas

Charge é um estilo de ilustração que tem por finalidade satirizar, por meio de uma caricatura, algum acontecimento atual com uma ou mais personagens envolvidas.
O termo charge vem do francês charger que significa carga, exagero ou, até mesmo ataque violento (carga de cavalaria).


                                                                        Exemplo 1:


Exemplo   2:


 Exemplo 3:
Exemplo 4:
Exemplo 5:
 
Exemplo 6:



fonte: www.acaricaturadobrasil.com.br

Editorial


Editorial: A “voz” do jornal. É  uma peça retórica do veículo de comunicação que nunca é assinado. É a opinião do veículo de comunicação.
Uma das características de um  bom editorial é quando ele aborda um tema recente.
-plasticidade: construção provisória / nada é conclusivo

Classificação:
1.                      Morfologia: comentário opinativo
2.                       Topicalidade: preventivo; se antecipa diante de um acontecimento
3.                       Estilo:
Intelectual: apela para a razão do leitor
Emocional: apela para os sentimentos
4.                       Natureza: promocional; circunstancial; polêmico

Estrutura- Editorail- Rígido- Simples
Título: atrair a atenção do leitor
Introdução: aparece no lugar do lead no editorial
Discussão: expõe os argumentos
Conclusão: leva o leitor a concordar com o texto

Exemplo:
Carta ao Leitor
O brasileiro esquecido
A foto acima, de um estúdio da Band em São Paulo, mostra o primeiro debate televisionado entre os três principais candidatos à Presidência da república, José Serra, Marina Silva e Dilma Rousseff, realizado em 5 de agosto. Na quinta-feira passada, dia 30, os presidenciáveis digladiaram-se, na Rede Globo, pela última vez antes da votação em primeiro turno. Entre o primeiro e o último encontro, eles debateram outras quatro vezes-e seus programas eleitorais ocuparam a televisão em dois blocos diários todas as terças, quintas e sábados. Conseguiram uma proeza. A de circunavegar as maiores e mais decisivas questões nacionais. Os candidatos ocuparam o tempo deles e o nosso tentando demonstrar como atenderiam às demandas  de grupos de pressão específicos da sociedade, sem mergulhar a fundo no que realmente interessa a todos os brasileiros: a eliminação das distorções estruturais que limitam o desenvolvimento do país.
Uma reportagem desta edição de Veja reaviva esses grandes temas que, por impopulares, complexos ou mesmo por falta de convicção dos contendores, foram contornados na campanha eleitoral. O brasileiro esquecido, aquele que faz parte da maioria silenciosa e disciplinada formada por cidadãos que trabalham, produzem e pagam impostos, tem o direito de saber como se dará cabo do inchaço de uma máquina estatal que exige a cada ano parcelas maiores da riqueza nacional, sem a contrapartida da melhoria dos serviços. Nenhum candidato explicou também como pretende gerir a União com mais eficiência e menos corrupção- ou como vai agir para tirar dos ombros das classes produtivas a mais pesada carga tributária entre todos os países emergentes.
O brasileiro esquecido não pode ser lembrado pelo estado apenas nas horas  do voto e de extrair dele os tributos. Atender à agenda do brasileiro esquecido torna dispensáveis os engenheiros sociais estatizantes, os planejadores de bondades em troca de votos e os místicos salvadores da pátria.  Exige apenas um governo que acresça a seus papeis constitucionais de prover educação, segurança e saúde o de regulador sábio, severo, justo e honesto. Que o brasileiro esquecido na campanha seja lembrado quando o vencedor estiver no Palácio do Planalto.


Fonte: revista Veja / edição 2 185 de 6 de outubro de 2010